Que se volte a luz!

Desatinos, Descompassos e Devaneios

3 de abril de 2012

Abril que começou em março...


A última noite

Acordou no meio da noite sozinho, sentou na beira da cama, tateou sobre o móvel, acendeu um cigarro, olhou para as caixas em meio a luz da labareda acesa no canto da boca, era a última noite que passava ali naquele apartamento. Uma dor forte bateu no peito, levantou-se e foi até a janela jogar a primeira fumaça. Olhou pela janela e sentiu saudades daquelas tardes em que ficava vendo o tempo passar, ali mesmo, esperando chegar o que às vezes não vinha e que o coração batia forte quando o inesperado tão esperado, às vezes, quase combinado, aparecia. Apagou a chama.
Com a luz fraca da lua, olhou para a mesa do quarto e voltou aos diversos almoços ocorridos e corridos que ali tivera. Domingos, as horas de risos que quase sempre sozinho e que às vezes acompanhado preencheram aquele dia quente e insosso. Quem diria, estaria saindo daquela cidade, mais uma mudança rumo ao desconhecido, seria a segunda? A terceira? Quantas mais ainda haveria? O que lhe aguardava? Pensava confuso, quase transtornado entre as tarefas do dia que ainda não chegara e ao mesmo já estava batendo junto com a ansiedade e esta já alternava entre euforia e a vontade de voltar o tempo, uma vontade de pedir para ficar um pouco mais naquele passado.

Acendeu a luz do quarto e foi em direção à cozinha, pegou um copo, abriu a geladeira e parado por alguns segundos esqueceu o que estava fazendo ali. Quantas vezes pediu para que enchesse aquelas garrafas? Quantas vezes elas estavam vazias? Escorou sobre a pia e baixando a cabeça lembrou-se de tudo que vivera até ali, viajou em 3 ou foram 5minutos? Lágrimas.

Voltando cambaleando ao quarto, tonto por um choro contido, sentou à beira da cama. Olhou para tudo mais uma vez com a visão embaçada, lembrando-se de cada detalhe, caixas fechadas e a agora sentindo a esperança de deixar um passado para trás. O coração cada vez mais acelerado. Levantou-se, apagou a luz e jogou-se na cama para tentar dormir o sono de poder recomeçar e tentar ser feliz mais uma vez, dessa vez não mais ali e sim, em outro lugar.

Carpe diem
Márcio Dadox