A última noite
Acordou no meio da noite sozinho, sentou na beira da cama,
tateou sobre o móvel, acendeu um cigarro, olhou para as caixas em meio a luz da
labareda acesa no canto da boca, era a última noite que passava ali naquele
apartamento. Uma dor forte bateu no peito, levantou-se e foi até a janela jogar
a primeira fumaça. Olhou pela janela e sentiu saudades daquelas tardes em que
ficava vendo o tempo passar, ali mesmo, esperando chegar o que às vezes não
vinha e que o coração batia forte quando o inesperado tão esperado, às vezes,
quase combinado, aparecia. Apagou a chama.
Com a luz fraca da lua, olhou para a mesa do quarto e voltou
aos diversos almoços ocorridos e corridos que ali tivera. Domingos, as horas de
risos que quase sempre sozinho e que às vezes acompanhado preencheram aquele
dia quente e insosso. Quem diria, estaria saindo daquela cidade, mais uma
mudança rumo ao desconhecido, seria a segunda? A terceira? Quantas mais ainda
haveria? O que lhe aguardava? Pensava confuso, quase transtornado entre as
tarefas do dia que ainda não chegara e ao mesmo já estava batendo junto com a
ansiedade e esta já alternava entre euforia e a vontade de voltar o tempo, uma
vontade de pedir para ficar um pouco mais naquele passado.
Acendeu a luz do quarto e foi em direção à cozinha, pegou um
copo, abriu a geladeira e parado por alguns segundos esqueceu o que estava
fazendo ali. Quantas vezes pediu para que enchesse aquelas garrafas? Quantas
vezes elas estavam vazias? Escorou sobre a pia e baixando a cabeça lembrou-se
de tudo que vivera até ali, viajou em 3 ou foram 5minutos? Lágrimas.
Voltando cambaleando ao quarto, tonto por um choro contido, sentou
à beira da cama. Olhou para tudo mais uma vez com a visão embaçada, lembrando-se
de cada detalhe, caixas fechadas e a agora sentindo a esperança de deixar um
passado para trás. O coração cada vez mais acelerado. Levantou-se, apagou a luz
e jogou-se na cama para tentar dormir o sono de poder recomeçar e tentar ser
feliz mais uma vez, dessa vez não mais ali e sim, em outro lugar.
Carpe diem
Márcio Dadox