Acordou, olhou no espelho e se
perguntou: que dia é hoje? Percebeu que estava a três dias de completar mais um
ano de vida. Olhou mais uma vez seu rosto de espelho, um pouco mais de perto e
murmurou que estava ficando velho, os cabelos brancos ganhavam notoriedade e
enquanto os analisava fazia um flashback do que tinha vivido depois da idade
balzaquiana até aquele momento.
Começou lembrando-se de sua
partida para uma cidade que distava 420 km do aconchego da casa dos seus pais,
o salto para o desconhecido, lembrava-se das estatísticas que apontavam que aos
30 anos a maioria dos jovens adultos conseguia a sua estabilidade financeira e
com ele não tinha sido diferente, agora já formado, e além do mestrado, o doutorado,
tinha conseguido o seu emprego federal. Coração partido, foi embora.
Os primeiros meses não foram fáceis,
o sertão chegou a virar mar. Fim de relacionamento, não demorou muito, solitário,
novamente voltou a se apaixonar, viveu amores impossíveis que se tornaram
momentaneamente possíveis, doces lembranças e um gosto amargo na boca mais uma
vez se fez.
Lavou o rosto, escovou os dentes
e lembrou que mais uma vez foi necessário partir, dois anos e meio foi o tempo
que levou para jogar tudo para cima e mudar novamente de cidade, dessa vez mais
perto da casa dos seus pais, mais perto do seu porto seguro. Saiu da cidade
levando consigo conquistas financeiras, orgulhoso do seu primeiro carro, usado,
mas importado, e na alma trazia os novos amigos feitos, lembranças para vida
inteira.
Chegou à nova cidade, novos ares,
encontro com velhos amigos, novo amores, trocou de carro depois de muito
batalhar, agora um zero (mais um sonho conquistado), mudança de estilo, está
realmente ficando velho, já começa a usar sapatos em sua diária, quem sabe um
dia adotará também as camisas de botão. Ai! Mais um cabelo branco era arrancado
com uma pinça!
Uau! Quase um ano nessa nova
cidade, quase um ano! Como o tempo passa rápido! Novos desafios, novos medos.
Estava pensando em comemorar mais
um ano de vida com os pais, amigos, com a sua fiel escudeira, sua princesa de
quatro patas. Sonhos, carregava muitos, somada as novas metas, vida profissional
chegando ao topo! Para a vida pessoal, o gosto amargo da dúvida. De tanto perguntar,
começou a se perguntar e descobriu que já não estava feliz! Seria hora de mudar
novamente?
Entrou embaixo do chuveiro e
concluiu que o tempo tinha lhe feito bem. A paciência antes inexistente, agora
já aparece, de forma tímida, mas aparece! Aquele “reclamão” está desaparecendo,
dando chance as alegrias da vida, decidiu apenas cultivar e distribuir
sorrisos, melhor assim, é melhor deixar o sorriso sempre passar, mesmo que às
vezes ele seja um pouco amarelo, não tenho mais 30...
Márcio Dadox
Carpe diem