Errei, não existe máquina do tempo para voltar ao passado ou
fazer com que nos leve rapidamente para o futuro e esqueçamos tudo. Não, não há como
esquecer, não há como pedir para recomeçar, não há como perdoar. Na verdade,
nunca irei me perdoar. Acordei com um gosto amargo na boca. Minto! Não acordei,
para isso era necessário ter dormido e, ultimamente, estou dormindo em uma cama
de faquir, mesmo sem pregos e vejo a noite virar dia, o dia voltar a ser noite,
a noite virar dia... Levantei, melhor assim, com um gosto amargo na boca. Uma
mistura de vergonha, dor, medo, perda, raiva (de mim), nojo e recusa invadiu o
meu ser em que nem as olheiras e as bolsas lacrimais poderiam me esconder quando olhei no espelho do banheiro. Perguntei várias vezes olhando cara a cara,
olho no olho, “quem é você?”. Banho morno, tempo indeterminado, ouvi uma voz lá
de dentro soltar um “covarde”. Lágrimas pegavam carona na água que descia pelo
meu rosto. Lágrimas, elas voltaram, saíram do epicentro da
alma e foram desaguar em um ralo de banheiro. Perdido pelo apartamento, a cada
passo dado, a cada objeto encontrado, vinham as lembranças! Lembrança de um passado
recente, lembrança de quem eu era, lembrança de quem você era, lembrança de nós dois. Uma coisa de
cada vez eu fui enchendo uma mala posta no meio da sala, em cima daquele pufe
vermelho que tanto gosto. Cada objeto que colocava ali dentro tinha a sua
história, o seu porquê e uma voz continuava a gritar em meus ouvidos: covarde,
você viu o que você fez? Quem é você? Lágrimas! A vergonha hoje me faz ficar mudo,
olho para o chão procurando alguma coisa que perdi, olho
para o chão por me sentir quebrado, por ter recebido um amor que não soube
respeitar ou cuidar, por ter sido realmente um covarde. Olho para o chão perguntando-me quem eu sou, olho para o chão para que um dia eu tropece e encontre alguma resposta, quem sabe eu volto a tropeçar em você...
P.S. Hoje à tarde, ao chegar ao apartamento, Bethoven, o cachorro
de rua que chamamos de Bob, veio até a mim em busca de comida, falei para ele
que hoje não, quem sabe outro dia...
Carpe diem
Márcio Dx
Um cover incrível...
Carpe diem
Márcio Dx