Hoje o dia amanheceu claro, um céu azul para alguém cinza-chuva
que não sabia ao certo se deveria acordar ou não, se queria acordar ou não. A
dor confunde, às vezes, a cor que sentimos por dentro. Em um vermelho vivo que
saía de mim, o fogo que ardia no estômago, o gosto esverdeado-amargo-azedo na
boca, o roxo da ponta do nariz misturando ao amarelo-pus de uma pústula interna
e a latejante dor invisível que queimava o cotovelo e o antebraço em algo nunca
jamais sentido. Talvez hoje, nesse dia azul-acinzentado, em que talvez eu possa
fazer parte, possa ser bom.
Vejo e viajo em leituras, os livros conseguem me manter vivo
dentro de alguns metros quadrados e por algumas horas. É como se todas as cores
de todas as dores pudessem desaparecer e transformar em um branco-paz. O
incômodo fervente do estômago tenta ganhar espaço disputando novamente com a
cor invisível do braço. Comprimidos. Mais comprimidos. Mais alguns. Percebo que
consegui obter a dormência em um branco-gelo. Finalizo dois livros pendentes há
alguns meses. A dor cresce, se espalha e novamente se espalha, voltamos as
cores iniciais.
Endorfina ou serotonina obtidas através de muitos esforços desapareceram
para dar espaço a essa dor cinza-cimento-queimado que nos faz despertar no meio
de uma noite e esquecer até quem nós somos. Até quando? Pergunto-me, esperando
que a resposta venha através de um anjo ou através de sonhos ou que
simplesmente venha. As lágrimas são sempre bem-vindas, parecem aliviar, lavam a
alma.
Procuro uma posição, procuro uma solução, procuro em vão e
volto a me perguntar: até quando? Até quando? Que a escuridão que cai possa
cobrir todas essas cores que sinto. Que amanhã, em um novo dia azul-claro, eu
possa sorrir novamente em um branco-neve. Branco-neve-paz.
Dadox