Que se volte a luz!

Desatinos, Descompassos e Devaneios

1 de março de 2008

Sentimento: Saudade

(Miguel Falabela e adaptado por Márcio Dadox)

Devemos ter feito algo de muito grave, para sentirmos tanta saudade...
Trancar o dedo na porta do carro dói. Cortar o dedo na lâmina ao fazer uma salada dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapão no pescoço, um empurrão, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa e às vezes até com vontade para mudar a dor de lugar, dói morder a língua, os lábios, dói cólica, dentes molares nascerem e pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade. Saudade de um irmão que mora longe, saudade de uma cachoeira da infância, saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais, saudade da avó que foi embora, do amigo imaginário (...) saudade de uma cidade, saudade de uma música marcante, saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem estas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos, do riso, do jeito de falar seu nome prolongando a última letra, dos vícios como "na verdade", de gaguejar ao ficar nervoso, do toque diferenciado no celular, do apelido carinhoso... Saudade da presença, e até da ausência consentida, muitas vezes sem querer consentir, mas saber que é necessária.


Ele podia ficar no quarto e você na sala de jantar, conversando com a sua vó, ou brincando com os cachorros, sem se verem, mas sabiam-se lá. Ele podia ir para o trabalho e você pra faculdade, mas sabiam-se onde.
Vocês podiam ficar o dia sem se verem, mas sabiam-se amanhã ou mais tarde iriam se falar ao telefone e ficaria tudo bem. Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ou ainda quando o encanto acaba... Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ele continua roncando à noite e tendo pequenos sustos ao cochilar e até mesmo quando consegue dormir, se ainda come sucrilhos, geléias, fandangos de milho, entre tantas coisas antes de dormir. Não saber se ele continua a fazer a barba com uma lâmina cega, por esquecer de comprá-la. Não saber se ele ainda usa aquela camisa apertada, ou se vai usar aquela camisa que comprou e nunca usou ou se você ainda prefere a calça cheia de bolsos e até um tênis que desejou comprar, mas pela opinião dela não comprou. Não saber se você foi à consulta com o otorrino por ter entrado em crise, ou se pegou pontos na perna ao cair, apesar de querer que ele saiba primeiro que todo mundo. Não saber se ele tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupado e vivendo de shakes mirabolantes, se você tem assistido às aulas de inglês, se tem ido à academia... se aprendeu a usar o emule..., se ele aprendeu a tirar o pé de embreagem.
Se ele continua preferindo bacardi lemon, se você continua detestando Mcdonalds, se continua amando, se você continua a chorar até nas comédias. Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ele está mais magro, se está mais forte. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, não querer olhar o orkut, e ainda assim doer.
Saudade é isso que eu estive sentido enquanto escrevia e o que você provavelmente estará sentindo depois que acabar de ler.
Carpe diem
Dadox

Um comentário:

Unknown disse...

boa tarde...
gostei das palavras...
um pouco forte...
mais verdadeiras....
abraço!

(( a deixei essa mensg para vc ver que não so vc ver o que vc escreve)
abraço..